quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Remédios para amar

O amor é o calmante que me tranqüiliza. Oh jovem cupido, condena-me como condenaste Penélope a aguardar seu querido Ulisses que, após longos anos voltou para exultar seu amor. Se quem ama é correspondido, este não sentirá o verdadeiro valor desse que nos faz padecer. Apenas os que suportam essa dor merecem uma vida digna tal qual só a morte esplendorosa o poderá causar.
Quando diz Ovídio, ó Cupido, que tuas setas bem poderiam ser usadas nas guerras, lhe digo não! Ao contrário, não te atrevas dar ao inimigo tamanha grandeza n’alma, assim sua queda será mal vista.
Você, jovem que ama: não escuta aquele desiludido e choroso, que desdiz o que outrora dissera a respeito do amor. Acaso Dido ou Fílis não houvessem derramado seus próprios sangues, não seriam mais que “amantes” de grandes homens.
Poderiam até ter seus nomes confundidos com os de outras das belas personagens, porém tornaram-se imotais.
O amor, é ele que dá nome ao ser, que nos faz levantar a cada manhã. É este, tão criticado por aqueles que julgam estar a sofrer quando, ao contrário, tal vírus tem em sua crueldade toda essência divina. E se não te sentes capaz por hoje, crédulo, aguarda o amanhã para a arte de amar.
Antes de continuar, deixo claro que de forma alguma esse princípio se confunda quaisquer que sejam as convicções estóicas de Zênon, quando digo a respeito de um prazer espiriitual pós-dor. Adianto-me um pouco pois que o tempo hoje é curto, para retrucar alguns conselhos do professor. Ao contrário do que usa em sua defesa, digo-lhe: aprecie quem você ama, deseje-lhe o bem mesmo quando o veja quando despreparado, e sorria ao ver a mais bela face assustada. É importante que conheças cada defeito do amado para que seu amor não se torne um conto imaginário. O conheça e o ame, o torne real para que, diferentemente dos entorpecidos apaixonados, não haja desilusão.
Se teu namorado canta bem, dá a ele um instrumento para que componha a ti; e se já não dança bem, ensina-o ou tente ensiná-lo mesmo que não aprenda. Quanto à beleza? Não o é fundamental! Se amas, o achará belo, assim como todo o resto que, apenas lhe incomodará se o que sentes não é o que dizes sentir. E se acaso preferires dormir com outros, então o faça com a certeza da sua depreciação como mortal, aproximando-se de um porco, não mais!
Chegando ao porto e já cansada de tantas tormentas, dedico esta a aqueles que, como Orfeu, não negligenciaram a ânsia de falta que lhe faz o seu amor, tão forte a ponto de ser a causa de sua própria separação.