sexta-feira, 24 de agosto de 2007

A mosquinha

A mosquinha, extasiada com a luz de minha sala, dava voltas e voltas ao redor da lâmpada. Larguei meus afazeres para observa-la, justamente por se tratar de um oficio banal. A pobrezinha rodava, rodava e batia contra a lâmpada quente. Tontinha que só ela, descansava na escrivaninha até voltar a si e continuar a rodar, rodar em volta da lâmpada e eu tinha a impressão de que suas asinhas derreteriam e a pequena teria então que vagar por
aí com suas perninhas, como fazem as formigas. Caiu, levantou, entonteceu e suspirou.
Tudo novamente.
Como amante de bichanos que sou, fiz minha contribuição para com esse amável inseto. Da gaveta do armário da cozinha tirei uma das ferramentas do mundo moderno, agora com muito mais potência: a lâmpada fria!
Aconcheguei a lampadinha no lustre da sala, a mosquinha me aguardava ansiosa. Ao que eu liguei a luz, a pequena rodeou, rodeou inúmeras vezes torneando o clarão até sentir-se confiante. Um, dois, três... pousou.Sinto com pesar o que viria a acontecer com a pobrezinha. Ela, de tão encantada (ainda me lembro daqueles grandes olhinhos verdes lacrimejantes...) permaneceu a observar aquele brilho quase que Solar, daqueles longos dias de verão. Observou, observou até que não pôde mais nada observar. Ficara cega e sem rumo. Ao que corri para ajuda-la, veio ao chão, desnorteada, e assim tão de súbito, não pude recuar. Escutei seu estalinho singelo contra meus pés descalços e me causou, apesar da piedade, tamanha repulsa que nunca mais comprei lâmpadas frias.

Um comentário:

Carol Dittrich disse...
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